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Bambu, nova opção para florestas plantadas

Artigo de Hans J. Kleine*


17 de agosto de 2017

 

 

 

Convivo com os desafios da silvicultura nacional desde o meu primeiro estágio em uma fábrica de papel em 1968. Até hoje, já aposentado, continuo envolvido com atividades ligadas à indústria de base florestal e elas me permitiram, ao longo do tempo, estudar três importantes matérias-primas: eucalipto, pínus e bambu, nesta ordem cronológica. Sobre os desafios da nossa silvicultura apresento a seguir a minha visão pessoal, formada durante o aprendizado de quase meio século.

 

O Brasil é o país com a segunda maior cobertura florestal do mundo, que abrange hoje em torno de 60% da área do país e só perde em extensão para a da Rússia. Devido ao clima tropical, as nossas matas nativas são megadiversas, o que dificulta a sua industrialização, ao contrário das matas homogêneas das regiões mais frias do planeta, nas quais predominam poucas espécies. Mas, temos também algumas poucas exceções, como a araucária, os bambus e as palmeiras, que podem formar extensas áreas relativamente homogêneas.

Durante quatrocentos e cinquenta anos nossa Mata Atlântica foi explorada, primeiro por Portugal e depois pelo Império e os governos republicanos, tanto para exportar enormes quantidades de madeiras nobres, quanto para abrir espaço para a agricultura e a pecuária.


Não havia consciência sobre o dano ambiental causado, nem sobre a necessidade de plantar florestas para atender a demanda de madeira. O plantio de árvores, quando ocorria, ficou restrito apenas a árvores frutíferas, com destaque para cafezais e coqueirais, trazidos do exterior e que aqui se adaptaram muito bem.


Os primeiros imigrantes chineses, que chegaram ao Rio de Janeiro a partir de 1814, trouxeram também mudas de chá, manga, carambola, laranja e bambu. As espécies de bambu asiáticas eram domesticadas, ao contrário da maioria das nativas, que só se desenvolvem dentro da mata.


Ao final do século dezenove elas já estavam espalhadas em todo território nacional, sendo usadas para construções leves no meio rural.


O bambu também serviu de matéria-prima para as primeiras fábricas de celulose e papel de pequeno porte, implantadas na segunda metade do século dezenove nas Regiões Sudeste e Sul.


No início do século vinte o país começou a deslanchar a sua indústria de base florestal, a partir das florestas nativas de araucária existentes na Região Sul. A madeira foi largamente usada na construção de casas e na fabricação de móveis e papel, porém a maior parte foi exportada.


O crescimento lento da araucária desestimulou o seu plantio em maior escala e foi necessário introduzir o cultivo do eucalipto da Austrália para fornecer madeira para as estradas de ferro, na forma de postes telegráficos, dormentes e carvão vegetal.

 

 

Nascia assim a silvicultura brasileira. Logo em seguida o eucalipto foi testado também, de forma pioneira no mundo, para a fabricação de celulose e papel, devido à dificuldade de importação destes produtos durante a Primeira Guerra Mundial.


Para espanto geral o resultado foi um enorme sucesso, que perdura até hoje, transformando o Brasil no maior produtor e exportador de celulose de eucalipto do mundo.

 

A espécie também é hoje muito usada em fábricas de madeira aglomerada para móveis, destinados aos mercados interno e externo, além de ser a madeira mais usada para produzir carvão vegetal.

 


Durante a Segunda Guerra Mundial foi implantada no Paraná a primeira grande fábrica de papel de araucária, que serviu de exemplo para diversas fábricas menores na Região Sul, as quais ajudaram a dizimar as florestas da espécie.


Tanto, que elas tiveram de ser substituídas, a partir da década de 1960, por plantios de pínus, um tipo de pinheiro originário dos Estados Unidos, que por sinal aqui cresce melhor do que na origem. Ainda assim o seu crescimento é bem mais lento do que o eucalipto e por isso a área total plantada de pínus vem até diminuindo recentemente.


Nesta mesma época o IAC - Instituto Agronômico de Campinas pesquisou dezenas de espécies de bambu, comprovando a sua ótima qualidade para celulose e papel. A tecnologia foi aplicada com sucesso em fábricas de papel da Região Nordeste, onde o eucalipto e o pínus não encontraram clima adequado.


Também foi desenvolvido o papel de bagaço-de-cana, resíduo agrícola muito disponível no país, mas a sua produção teve pouca duração, devido à baixa qualidade deste tipo de papel.


Apesar dos avanços da nossa silvicultura, o total de florestas plantadas hoje ainda é relativamente pequeno e representa em torno de 8 milhões de hectares, ou menos de 1% da área do país. Atualmente a sua distribuição por espécies é muito desequilibrada, sendo 75% de eucalipto, 20% de pínus e apenas 5% de outras espécies, como acácia negra, usada para extrair o tanino, a seringueira e diversas espécies de madeiras nobres, usadas para construção e móveis.


No entanto, o dado animador é que dispomos de condições para ampliar em muito as áreas de plantio, que são: clima favorável, 200 milhões de hectares de terras cultiváveis, a melhor tecnologia genética, os mais baixos custos de produção florestal do mundo e uma crescente demanda do mercado mundial para produtos florestais.


Podemos, portanto, plantar e exportar muito mais, desenvolver novas espécies e equalizar melhor a participação de cada uma, diminuindo os riscos da monocultura. Também dispomos de uma área de 9 milhões de hectares de matas nativas com bambu ainda inexploradas na Região Norte (Acre), além de áreas menores e ainda não bem dimensionadas nas Regiões Centro-Oeste e Sudeste.


O bambu é uma gramínea, que substitui a madeira em quase todas as aplicações e de modo mais sustentável
— Hans J. Kleine


Vale lembrar que o bambu é uma gramínea, que substitui a madeira em quase todas as aplicações e de modo mais sustentável, porque ele recupera áreas degradadas, permite colheitas sucessivas sem necessidade de replantio e cresce mais rápido até do que o eucalipto.


É a madeira do futuro, mas até agora ainda pouco aproveitada.


Também convém mencionar outro fator que deve impulsionar nossa silvicultura. São as mudanças climáticas do planeta, que tendem a favorecer formas alternativas de energia, como os biocombustíveis e a substituição de produtos fósseis, como petróleo e carvão mineral, por produtos de base florestal.


Os compromissos assumidos recentemente pelo Brasil no Acordo de Paris sobre o controle das emissões de gases do efeito estufa igualmente permitem antever a necessidade de maciços investimentos em novas áreas de florestas plantadas.


Vejo, portanto, um futuro cada dia mais promissor para a nossa silvicultura!


Hans J. Kleine - hjkleine@floripa.com.br

 
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