A ideia é sofisticar o invento com incrementos tecnológicos e dotá-lo de uma interface amigável para que possa atender a diferentes produtores e culturas. Os pesquisadores explicam que a economia será gerada porque o Saci acionará a irrigação somente nas áreas da plantação que precisam de água, em vez de irrigar toda a lavoura simultaneamente, como ocorre nos sistemas convencionais. Essa característica o torna ideal para ser empregado em fazendas que utilizam a agricultura de precisão.
O pesquisador da Embrapa Instrumentação Carlos Vaz explica que o Saci será mais preciso, detectará uma faixa mais extensa de tensão crítica (limiar de umidade do solo a partir do qual há necessidade de irrigação) e apresentará leituras mais confiáveis por não sofrer influência de salinidade do solo nem de temperatura. Vaz integrou a equipe de desenvolvimento do Igstat e será o responsável técnico da Embrapa no projeto do Saci.
“O objetivo é que o produto atenda a pequenos e grandes produtores que desenvolvem cultivo protegido irrigado, empresas de sistemas de irrigação que atuam com métodos de aspersão e localizado, além de agricultores em geral que adotam irrigação na lavoura,” afirma o cientista da Embrapa.
De acordo com o diretor da empresa, Luis Fernando Porto, o produto será versátil para atender às características de solo demandadas pelo mercado. “Usando o sensor Igstat desenvolvido pelo pesquisador da Embrapa Instrumentação, Adonai Gimenez Calbo, o sistema vai promover uma irrigação específica, de acordo com cada tipo de cultura, porque será produzido com várias tensões de água no solo e a partir de uma demanda de mercado”, conta ele, ressaltando que o apoio do Senai está sendo fundamental para o desenvolvimento da inovação.
O projeto envolve vários atores, de diferentes áreas do conhecimento, dos setores público e privado, para vencer em 24 meses os desafios tecnológicos de desenvolvimento do software e do hardware para automação da comunicação do sensor de irrigação com os demais componentes do sistema, como o reservatório de água.
Além do Senai, que está investindo recursos de R$ 400 mil no desenvolvimento do sistema, participam a Embrapa Instrumentação, a Faculdade de Zootecnica e Engenharia de Alimentos (FZEA) da Universidade de São Paulo (USP), em Pirassununga (SP), e a empresa de consultoria ambiental Genos.
A Embrapa Instrumentação vai avaliar a eficiência dos dispositivos sensores e do sistema de controle automático da irrigação em laboratório, comparando com outros sistemas disponíveis no mercado. O pesquisador Carlos Vaz acredita que a união de competências das instituições envolvidas no projeto possibilitará o desenvolvimento de um sistema de irrigação robusto, competitivo e inovador.
Para o supervisor de Inovação do Senai-SP, Ricardo de Oliveira Campos, não é apenas a subvenção para o desenvolvimento do desafio tecnológico que motiva as empresas. Há também benefícios intrínsecos aos projetos concluídos com sucesso, que ganham força ao serem apresentados a grandes investidores. “Ao passar pelo processo seletivo nacional, (os projetos) demonstram maturidade de conceito de negócio e também se destacam pela própria inovação em si, a qual se encontra em fase avançada de validação – protótipo ou planta-piloto ou, até mesmo, já inserida no mercado”, afirma.
Sistema armazena dados com facilidade
O Saci será composto de um sensor cerâmico de tensão de umidade do solo associado a componentes eletrônicos de automação sem fio, fonte de energia solar, rede elétrica ou bateria. Porto explica que a transmissão de dados poderá ser realizada por radiofrequência ou celular.
O aparelho terá resistência a umidade e choques, será de fácil manuseio e também reduzirá a lixiviação do solo e dos nutrientes e pesticidas, minimizando impactos ambientais e perdas econômicas. Além disso, vai facilitar a irrigação automatizada por não precisar de calibragens e permitir o armazenamento de dados sobre irrigação com facilidade.
Para a professora Tamara Maria Gomes, que integra a equipe da USP que vai realizar os experimentos em campo com o sensor, a expectativa é que o Saci apresente uma boa resposta na avaliação da umidade do solo e associe economia de água e energia com facilidade de manuseio.
Os experimentos serão realizados em ambiente protegido, em diferentes substratos e culturas, definidos dentro do grupo das hortaliças. Segundo a professora, as análises estarão voltadas para a resposta do sensor à umidade do solo e para o desenvolvimento das culturas, considerando a eficiência do uso da água, ou seja, a relação entre a produção e o consumo de água pela cultura, comparativamente com outros sensores comerciais.
“Na agricultura irrigada, o manejo da irrigação ainda é muito pouco adotado pelos produtores rurais. Há uma rejeição, muitas vezes pela dificuldade na operação de sensores e principalmente pela necessidade de manutenção e pela falta de acesso à gestão da informação. Com o Saci acreditamos que essa barreira possa ser facilmente transposta”, afirma.
Porto acredita que a tecnologia trará benefícios para a empresa, cadeia produtiva e para a sociedade, gerando impactos econômicos, ambientais e sociais, considerando o crescimento do agronegócio e o aumento da área irrigada no País.
Brasil deve aumentar sua área irrigada
O Plano para a Expansão, Aprimoramento e Desenvolvimento Sustentável da Agricultura Irrigada no Brasil, anunciado em maio de 2016 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), prevê uma expansão da área irrigada do País de 6,2 milhões para 11,2 milhões, em dez anos, o que deve aumentar a produtividade de 3,4 toneladas para quatro toneladas por hectare e gerar até 7,5 milhões de empregos diretos e indiretos.
Por
EMBRAPA
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