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A dificuldade para manter os jovens no campo foi apontada na quinta-feira (24 de maio), em debate na Câmara dos Deputados, como um dos principais obstáculos ao crescimento da agricultura familiar no Brasil.
A Audiência pública promovida pela Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural teve o objetivo de analisar dados preliminares do Censo Agropecuário de 2017, cujos resultados finais serão divulgados em julho deste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O coordenador do Censo, Antonio Florido, ressaltou que os números levantados até agora apontam para uma tendência de aumento da idade média dos trabalhadores agropecuários no Brasil. |
“O produtor está envelhecendo e não está havendo reposição nas camadas etárias mais baixas”, observou. Segundo ele, os trabalhadores do setor têm buscado outras fontes de renda além das suas atividades tradicionais.
A Coordenadora do Programa de Agricultura Familiar da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Daniela Bittencourt, alertou que os jovens não querem mais ficar no campo. “Para mantê-los, temos que buscar soluções para os sistemas produtivos, buscar tecnologias específicas para cada área e apoiar o pequeno produtor. A tecnologia não está chegando ao pequeno; ou, se está chegando, não corresponde à sua realidade. Vamos poder mudar isso conhecendo a realidade de cada região do País”, afirmou, salientando a importância dos dados que serão obtidos por meio do novo Censo Agropecuário.
Daniela Bittencourt explicou que a agricultura familiar poderá ser fortalecida pela formação de mercados alternativos focados, por exemplo, em produtos artesanais ou no turismo rural. A Embrapa, segundo ela, vem incentivando o desenvolvimento sustentável do campo e aperfeiçoando, por meio da inclusão tecnológica, a organização das cadeias de produção e comercialização da agricultura familiar.
O deputado Heitor Schuch, ponderou que o aumento da idade da população rural é um sinal positivo do crescimento da expectativa de vida dos brasileiros, mas ressaltou que isso gera a necessidade de novas políticas públicas. “Precisamos fazer a sucessão rural e segurar a juventude no campo. O Censo Agropecuário apontará caminhos nesse sentido”, destacou o parlamentar.
Estratégia educacional
O secretário de Política Agrícola da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Antoninho Rovaris, também lamentou a tendência de migração da juventude rural para as áreas urbanas. “Não temos conseguido criar atrativos no meio rural para que os jovens lá permaneçam”, afirmou.
Ele atribui esse problema, entre outros fatores, a políticas educacionais. “Há mais de dez anos, temos a nucleação da educação: as crianças são tiradas da comunidade rural e levadas para escolas na cidade, e assim começam a perder o vínculo com a agricultura”, disse Rovaris.
De acordo com o representante da Contag, a incorporação de novas tecnologias no meio rural, embora seja necessária, reduz a demanda por mão-de-obra no campo. “O agricultor precisa de tecnologia, mas também de fontes de renda”, lembrou.
Representantes de trabalhadores rurais apontaram, durante a audiência, outros problemas que precisam ser enfrentados para garantir o estímulo à agricultura familiar: assistência técnica insuficiente, dificuldades na comercialização dos produtos, falta de transporte escolar, existência de estradas sem asfalto, aumento da violência no campo e falta de políticas públicas específicas para as mulheres agricultoras.
A audiência também contou com a participação de Mauro Eduardo Del Grossi, professor do Programa de Pós-Graduação em Gestão Pública da Universidade de Brasília (UnB) e integrante do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios (Propaga)
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CAMPO VIVO
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